Bandos inumeráveis de ferozes invasores tornavam-se senhores da Gália. Todo o território situado entre os Alpes e os Pirenéus e entre o oceano e o Reno foi devastado (...). Muitas cidades foram despovoadas (...). A Hispânia treme (...).
Na era de 446 (corresponde a 408 da Era Cristã), os Vândalos, os Alanos e os Suevos ocuparam a [Hispânia], mataram e destruíram muitos nas suas sangrentas incursões, incendiaram cidades e saquearam as propriedades assaltadas, de forma que a carne humana era devorada pelo povo na violência da fome. As mães comiam os filhos; e também os animais, que se haviam acostumado aos cadáveres dos que morriam pela espada, de fome ou de peste, eram mesmo levados a destroçar os vivos; desta maneira quatro pragas dizimaram toda a Espanha, sendo cumprida a predição divina que há muito tinha sido escrita pelos profetas.
Na era de 449 (em 411 da Era Cristã), depois da terrível devastação das pragas pela qual a [Hispânia] foi destruída, os Bárbaros, decididos finalmente pela graça de Deus a fazer a paz, sortearam as províncias para as ocupar.
S. Jerónimo, Cartas (século V)